Capítulo 16 – Redação Profissional e Formatação de Relatórios
O relatório técnico é o produto final da investigação privada. É ele que o cliente verá, mostrará ao advogado e, em muitos casos, apresentará em processos judiciais ou negociações.
Um bom relatório:
- é claro;
- é organizado;
- é cronológico;
- é neutro (sem fofoca, sem exagero);
- é técnico (focado em fatos e provas).
“O relatório não é desabafo, é documento técnico.”
16.1. Função do relatório na investigação privada
O relatório tem pelo menos cinco funções principais:
- Registrar de forma oficial o que foi observado;
- Organizar o conjunto de fotos, vídeos e horários;
- Dar ao cliente uma visão clara do que realmente acontece;
- Fornecer base para estratégia jurídica do advogado;
- Proteger o próprio detetive, mostrando o que foi feito e como foi feito.
16.2. Princípios de redação profissional
A redação profissional de relatórios deve seguir alguns princípios:
- Objetividade – ir direto ao ponto;
- Imparcialidade – relatar fatos, não opiniões pessoais;
- Clareza – evitar frases confusas ou muito longas;
- Correção – revisar ortografia e gramática;
- Coerência – os fatos precisam se encaixar na linha do tempo.
16.3. Estrutura básica de um relatório técnico
Um modelo padrão ADB pode conter:
- Cabeçalho institucional (logo, dados do detetive);
- Identificação do cliente;
- Identificação do investigado (quando houver);
- Objeto da investigação (resumo do que foi solicitado);
- Período e locais da operação;
- Metodologia de trabalho (breve descrição);
- Relato cronológico dos fatos;
- Conclusão técnica;
- Anexos (fotos, prints, mapas, vídeos – descritos);
- Assinatura e identificação do detetive responsável.
16.4. Cabeçalho e identificação
O cabeçalho reforça a credibilidade e a origem do documento.
- Logo da ADB ou do escritório;
- Nome do detetive responsável;
- Número de registro (quando houver cadastro formal);
- Dados de contato profissional;
- Indicação de que se trata de Relatório Técnico de Investigação Privada.
RELATÓRIO TÉCNICO DE INVESTIGAÇÃO PRIVADA – ADB
16.5. Objeto da investigação
Nessa parte, o detetive resume em poucas linhas:
- o que o cliente solicitou;
- o foco da investigação;
- sem entrar em emoção ou julgamento.
Exemplo:
“O presente relatório tem por objetivo registrar, de forma técnica e cronológica, os fatos observados relacionados à rotina do Sr. (nome), no período de 10 a 20 de março de 2025, com foco em eventuais encontros extraconjugais na cidade de (...).”
16.6. Período, locais e metodologia
É importante indicar:
- datas e horários aproximados das diligências;
- cidades, bairros ou regiões atendidas;
- se a investigação ocorreu em vigilância velada, acompanhamento veicular, monitoramento de locais etc.
Exemplo:
“As diligências foram realizadas de forma velada, por meio de vigilância estática e dinâmica, com uso de veículo descaracterizado e equipamentos de registro de imagem em via pública.”
16.7. Relato cronológico dos fatos
Esta é a parte central do relatório. A organização é feita por:
- data;
- horário;
- local;
- fato observado;
- ligação com anexos (quando houver).
Exemplo de estrutura:
- Dia 01 – 15/03/2025
- 07h40 – Veículo (modelo/placa parcial) deixa a residência localizada na Rua (...), bairro (...).
- 08h10 – Chegada ao endereço profissional na Av. (...), permanecendo no local até por volta das 12h05.
- 12h20 – Saída do local de trabalho, dirigindo-se até o restaurante (nome ou referência), onde permanece acompanhado de pessoa do sexo feminino não identificada, por cerca de 1h10 (ver Anexo 01 – imagem 01).
O texto deve descrever o que foi visto, sem tirar conclusões morais. Quem interpreta é o cliente e, se for o caso, o advogado.
16.8. Linguagem: o que evitar
Evitar no relatório:
- apelidos, xingamentos ou expressões ofensivas;
- julgamentos morais (“pessoa de má índole”, “totalmente sem caráter” etc.);
- achismos (“provavelmente”, “parece que”, “com certeza estava traindo”);
- linguagem emocional (“foi uma cena revoltante”, “um absurdo” etc.).
Substituir por expressões técnicas:
- “foi observado que…”;
- “permaneceu no local por aproximadamente…”;
- “foi possível registrar por meio de imagens…”;
- “não foi constatado deslocamento após…”;
- “não foi possível identificar o terceiro acompanhando o investigado”.
16.9. Conclusão técnica
Na conclusão, o detetive:
- retoma o objeto da investigação;
- resume os principais fatos observados;
- informa, de forma técnica, se houve ou não elementos que confirmem a suspeita inicial;
- deixa claro que a interpretação jurídica caberá a advogado ou autoridade responsável.
Exemplo:
“Diante dos fatos descritos e devidamente registrados em imagem, conclui-se que houve encontros reiterados entre o investigado e a mesma pessoa do sexo feminino, em horários e locais compatíveis com a suspeita apresentada pelo contratante. Não foram observadas outras situações relevantes fora do período registrado nestas datas. Eventual enquadramento jurídico dos fatos deverá ser analisado por profissional habilitado na área jurídica.”
16.10. Anexos: fotos, mapas e vídeos
Os anexos reforçam o que foi descrito no corpo do relatório. Podem incluir:
- fotografias (numeradas);
- prints de rotas (mapas com trajetos aproximados);
- lista de arquivos de vídeo entregues em separado (pendrive, link);
- capturas de tela de redes sociais (quando feitas por OSINT lícito).
Cada anexo deve ser referenciado no texto principal:
- “(ver Anexo 02 – imagem 03)”;
- “(ver Anexo 04 – mapa de deslocamento)”;
- “(vídeo correspondente fornecido em mídia digital, identificado como Arquivo 01 – 15/03/2025).”
16.11. Padrão ADB – boas práticas de apresentação
Algumas boas práticas de padrão institucional:
- usar fonte legível (Arial, Calibri, similar);
- corpo de texto entre 11 e 12 pt, em páginas A4;
- margens regulares;
- numeração de páginas;
- identificação do caso ou protocolo em rodapé (quando houver);
- indicar se o relatório é confidencial e de uso restrito.
Finalizar com:
- local e data;
- nome do detetive;
- número de registro (quando aplicável);
- assinatura.
16.12. Checklist de relatório profissional
- ✔ Relatório tem cabeçalho institucional;
- ✔ Cliente e investigado estão claramente identificados;
- ✔ Objeto da investigação está resumido com clareza;
- ✔ Período, locais e metodologia foram informados;
- ✔ Descrição dos fatos está em ordem cronológica;
- ✔ Linguagem é neutra e profissional;
- ✔ Não há termos ofensivos ou julgamentos morais;
- ✔ Conclusão é técnica, não emocional;
- ✔ Anexos estão organizados e citados no texto;
- ✔ Ortografia e gramática revisadas;
- ✔ Documento final foi salvo, assinado e arquivado corretamente.
16.13. Conclusão do Capítulo 16
A redação e a formatação de relatórios colocam o detetive em outro patamar profissional. Um relatório bem feito:
- passa confiança para o cliente;
- facilita a atuação do advogado;
- mostra seriedade e organização;
- valoriza o trabalho em campo.
Nos capítulos seguintes, a apostila aprofunda a atuação em ambientes hostis, a ética e responsabilidade civil e a postura profissional, fechando o ciclo entre a prática em campo, a proteção do profissional e a qualidade técnica da documentação produzida.