Capítulo 11 – Relatório Final
O relatório final é o produto principal da atividade do detetive particular. Todo o esforço de campo, observação, análise e organização de provas converge para este documento.
É por meio do relatório que:
- o cliente entende o que, de fato, foi apurado;
- o advogado avalia a utilidade das informações para o processo;
- o profissional demonstra sua técnica, seriedade e neutralidade;
- se consolida o histórico da investigação para futura consulta.
11.1. Finalidade do relatório
O relatório tem como finalidades principais:
- Relatar fatos observados pelo detetive, de forma clara e cronológica;
- Apresentar provas obtidas dentro da legalidade;
- Organizar informação para tomada de decisão do cliente;
- Servir como registro técnico da operação realizada;
- Documentar o cumprimento do contrato de prestação de serviço.
11.2. Princípios do relatório profissional
- Clareza – o cliente leigo precisa entender.
- Objetividade – foco em fatos, não em opiniões pessoais.
- Neutralidade – o detetive não julga, relata.
- Coerência – informações alinhadas, sem contradições internas.
- Legalidade – nada de descrever prova ilícita como “normal”.
- Sigilo – trata de conteúdo sensível; cuidado com nomes e detalhes.
11.3. Estrutura básica de um relatório ADB
Um relatório profissional pode seguir o padrão abaixo (adaptável a cada caso):
- Capa
- Identificação das partes
- Objeto da investigação
- Metodologia
- Resumo executivo
- Desenvolvimento (relato cronológico)
- Conclusão técnica
- Anexos (fotos, vídeos, prints, documentos)
11.3.1. Capa
Deve conter, em regra:
- logotipo da ADB ou do profissional (quando aplicável);
- título “Relatório de Investigação Particular”;
- nome do detetive responsável e número de registro;
- nome do cliente (ou código, em versão sigilosa);
- período da investigação;
- local/data da emissão.
11.3.2. Identificação das partes
Aqui se descreve:
- Contratante – pessoa física ou jurídica;
- Investigado(s) – nome completo ou iniciais, conforme nível de sigilo;
- Detetive responsável – nome, registro, contatos profissionais.
11.3.3. Objeto da investigação
Nesta parte o profissional registra, de forma objetiva, o que foi contratado. Exemplo:
“Verificar a rotina e os deslocamentos do investigado X, no período de 10/04/2025 a 25/04/2025, com foco em possíveis encontros extraconjugais fora do horário de trabalho.”
11.3.4. Metodologia
Explicação geral dos métodos empregados, sem revelar segredos operacionais:
- vigilância velada em veículo;
- acompanhamento discreto em via pública;
- levantamento observacional em locais públicos;
- consultas abertas em fontes digitais (OSINT), quando houver;
- registros fotográficos e em vídeo, quando possível.
Não é necessário detalhar “como” o detetive faz cada coisa, mas sim “quais tipos de técnica” foram utilizadas.
11.3.5. Resumo executivo
O resumo executivo é um texto curto (normalmente 1 a 3 parágrafos), apresentando:
- síntese dos principais fatos;
- se houve ou não confirmação de determinada suspeita;
- menção à existência de registros fotográficos ou audiovisuais.
Muitos clientes e advogados leem primeiro o resumo executivo para decidir se vão aprofundar a leitura.
11.3.6. Desenvolvimento – relato cronológico
É o “coração” do relatório. Aqui o detetive descreve o que foi efetivamente observado, dia a dia, horário a horário, com:
- datas em ordem;
- horários aproximados ou exatos (quando anotados);
- locais (com endereço ou referência);
- movimentações (chegada, permanência, saída);
- eventuais contatos com outras pessoas.
11.3.7. Conclusão técnica
A conclusão não é julgamento moral. É a síntese técnica do que foi apurado em relação ao objeto do contrato. Exemplos:
- “Houve indícios consistentes de infidelidade, com registros de encontros reiterados em contexto íntimo.”
- “Não foram identificados elementos que comprovem a conduta suspeita descrita pelo contratante.”
- “A rotina levantada indica padrão compatível com as alegações do investigado em processo trabalhista.”
11.3.8. Anexos
Os anexos incluem:
- fotos numeradas;
- prints de tela (quando lícitos);
- mapas de rota (quando utilizados);
- outros documentos relevantes.
Cada anexo deve ser referenciado no corpo do texto (Ex.: “conforme Foto 03 em anexo”).
11.4. Estilo de escrita profissional
A redação deve ser:
- formal, mas simples – sem excesso de termos técnicos;
- impessoal – evitar “eu achei”, “eu senti”, “na minha opinião”;
- cronológica – eventos na ordem em que ocorreram;
- coesa – sem saltos ou lacunas sem explicação.
Preferência por narrar em terceira pessoa:
“No dia 15/05/2025, o profissional iniciou a vigilância às 07h15min, nas proximidades do endereço...” (em vez de “Eu comecei a vigiar às 7h15.”)
11.5. Tratamento de nomes e identidades
Como o relatório envolve pessoas reais, é fundamental:
- usar nome completo apenas quando necessário e contratado;
- em versões para terceiros, considerar uso de iniciais (Ex.: “Sr. J.M.S.”);
- evitar adjetivos ofensivos (“adúltero”, “vagabundo”, “trapaceiro”);
- descrever conduta, não rotular pessoas.
11.6. Inserção e referência de provas
O relatório deve “conversar” com as provas. Exemplos:
- “Conforme se observa na Foto 05 (anexo), o investigado ingressa no condomínio acompanhado de pessoa do sexo feminino...”
- “As imagens de vídeo 02 e 03, em anexo, registram a permanência do veículo no local por aproximadamente 2h30min.”
Isso fortalece a relação entre a narrativa e o material comprobatório.
11.7. Erros comuns em relatórios de investigação
- usar linguagem emocional (“absurdo”, “inaceitável”, “ridículo”);
- fazer acusações que vão além do que as provas mostram;
- misturar opinião pessoal com fato;
- não organizar as datas em ordem correta;
- deixar dúvidas sobre horários e locais;
- não referenciar os anexos corretamente;
- entregar relatório sem revisar ortografia e digitação.
11.8. Modelo de parágrafo técnico
“No dia 08/06/2025, às 18h40min, o investigado saiu do local de trabalho (Av. Central, nº 500, Bairro Centro) dirigindo o veículo marca X, modelo Y, cor prata, placa ABC-1234. Às 19h05min, estacionou em frente ao estabelecimento denominado ‘Restaurante Tal’, localizado na Rua Exemplo, nº 200. Permaneceu no interior do local até 21h12min, na companhia de colega de trabalho do sexo feminino, identificada como Sra. M.R. Durante o período, houve proximidade física e gestos de intimidade, conforme registros fotográficos 04 a 09 em anexo.”
11.9. Versões diferentes do mesmo relatório
Em alguns casos, podem existir:
- Versão completa – para o cliente e, eventualmente, o advogado;
- Versão resumida – para apresentação em reunião ou parecer;
- Versão extremamente sigilosa – com iniciais e omissão de dados sensíveis, para evitar exposição desnecessária.
Todas as versões devem ser coerentes entre si; muda apenas o nível de detalhe e a forma de identificação das pessoas.
11.10. Checklist do relatório final
- ✔ Capa com identificação básica;
- ✔ Indicação clara do objeto da investigação;
- ✔ Metodologia explicada em linhas gerais;
- ✔ Resumo executivo objetivo;
- ✔ Relato cronológico dos fatos;
- ✔ Conclusão técnica alinhada ao que foi observado;
- ✔ Anexos numerados e referenciados no corpo do texto;
- ✔ Linguagem neutra e profissional;
- ✔ Revisão ortográfica e de formatação antes da entrega;
- ✔ Armazenamento seguro de uma cópia pelo detetive (pelo prazo previsto em contrato).
11.11. Conclusão do Capítulo 11
O relatório final é a assinatura técnica do detetive particular. É por meio dele que o mercado, os clientes e os advogados reconhecem a qualidade profissional do trabalho.
Um relatório bem feito:
- transmite confiança;
- facilita decisões difíceis;
- pode ser útil em processos judiciais e acordos extrajudiciais;
- protege o detetive, pois demonstra que ele agiu com método e dentro da legalidade.
Nos próximos capítulos, a apostila aprofunda temas complementares, como sigilo profissional, contrainteligência, planejamento operacional, trabalho de campo, redação técnica avançada, atuação em áreas de risco e atualização contínua do detetive particular.